"Tinha um prazo apertado e uma coluna para escrever. Steve Lopez corria para o jornal quando o ouviu. Num violino com apenas duas cordas, Nathaniel Ayers, vestido de farrapos, tocava uma sinfonia de Beethoven. Steve sentou-se e esperou por uma pausa do músico. Trocaram algumas palavras e ficou a promessa de um regresso. O jornalista encontrara potencial para uma nova história. Três semanas depois Nathaniel reapareceu em Pershing Square, na baixa de Los Angeles. Com ele, o mesmo violino e um carrinho de supermercado com os seus objectos. Entre conversas sem sentido, o músico revelou que andou em Juillard, uma das melhores escolas de arte do mundo.
Nathaniel Ayers nasceu em Cleveland e cedo demonstrou talento para a música. Começou, aos 11 anos, as lições de piano. Mas a paixão veio quando conheceu o contrabaixo. Os professores acreditavam que ele tinha um dom. A meio do primeiro ano na Universidade de Ohio, foi a uma audição e ganhou uma bolsa para Juillard. Entrou em 1970 e fez um primeiro ano brilhante. Mas no seguinte mostrou alguns sinas de demência. Rabiscava as paredes do quarto com caricaturas dos professores, com referências musicais e angústias raciais. Aos 21 anos foi levado para as urgências da Psiquiatria: diagnosticaram-lhe esquizofrenia paranóide. Esteve internado, tomou medicamentos, mas nunca ficou curado. Recusou, desde então, qualquer tratamento. Trocou as ruas de Cleveland pelas de Los Angeles, onde dorme no perigoso bairro de Skid Row. E trocou o contrabaixo pelo violoncelo e pelo violino, que aprendeu a tocar sozinho.
Steve Lopez publicou a história de Nathaniel no Los Angeles Times. Chegaram respostas de leitores e até velhos instrumentos para o músico. Foi então que começou a luta do jornalista para tirar Nathaniel das ruas. Envolveu psiquiatras, centros de recuperação, a família e alguns músicos. Os artigos que publicou durante dois anos foram pondo os leitores a par dos avanços (e recuos) de Nathaniel.
A mudança para um apartamento num centro de recuperação fê-lo sentir-se realizado. Agora toca com músicos de Los Angeles Philharmonic e o seu sonho é ensinar. Para já, deu origem a um livro e um filme."
Revista Sábado
As vezes as pessoas perdem-se no seu caminho e tudo o que precisam é de alguém que lhes pegue na mão e os ajude a erguer novamente...
O filme "O solista", baseado na vida de Nathaniel, vai estrear em Portugal no dia 15 de Outubro...
Sem comentários:
Enviar um comentário