Esta obra literária retrata o clima de opressão, medo e terror vivido na República Dominicana durante o governo do ditador Rafael Leónidas Trujillo, mais propriamente os momentos que antecedem o seu assassinato e o lento processo de democratização do país, protagonizado pelo presidente Joaquim Balaguer.
É curioso perceber como as personagens se vão movendo conforme os seus próprios interesses, passando por cima daquilo que sabem ser moralmente correcto, sem qualquer tipo de arrependimento, não hesitando passar para a antítese do que defenderam durante anos não só como forma de sobrevivência, mas sobretudo pela ambição do poder. Faz lembrar um pouco a questão da evolução de Charles Darwin: os indivíduos que sobrevivem não são necessariamente os mais fortes ou mais inteligentes, mas sim os que se conseguem adaptar.
Isso explica como personagens que eram apoiantes directos do governo de Trujillo, adolando-o, prestando-lhe culto como um "Deus", humilhando-se para o servir, se conseguem adaptar às mudanças políticas que emplicaram o assassinato do "chefe supremo" e no momento da transição democrática aparecem a insultar a sua memória e como representantes da mudança e da liberdade...
É curioso como a memória dos povos é curta e se esquecem frequentemente dos horrorres cometidos pelos regimes ditatoriais, neste caso em particular havia pessoas que simplesmente desapareciam de um dia para outro, caso se suspeitasse que nutriam algum tipo de sentimento anti-Trujillista eram perseguidos, torturados e frequentemente assassinados da forma mais cruel possível, acabando entregues a voracidade de tubarões.
É um bom livro para reflectir sobre até onde vai a sede de poder de alguns seres humanos, confesso que nalguns momentos achei completamente arrepiante a descrição das turturas sofridas pelos assassinos de Trujillo, todos os pormenores, os cheiros, os sons são descritos de tal forma que parecemos ver e vivenciar os acontecimentos. É impressionante depois perceber como os assassinos do ditador e as suas respectivas famílias (inocentes) foram primeiro perseguidos, apontados e entregues pela própria população às forças dos Serviços Inteligentes, acabando a maioria por falecer devido às torturas; e depois de mortos, já durante a democratização do país, serem considerados heróis da Pátria...
Algo que achei também bastante interessante ao longo do livro é que o autor vai-nos dando as diferentes facetas e as perspectivas das personagens, aquilo que os move, as suas paixões, os seus dramas individuais...
Concluo referindo que mesmo tendo noção de que se trata de História ficcionada gostei bastante do livro e recomendo a todos que gostem de pensar.
Olá
ResponderEliminarVargas LLosa é um dos meus autores preferidos, curiosamente este é um dos poucos livros dele que nunca li... mas está na minha lista.
Gostava de copiar o post para o o Clube de leitura, posso?
Um grande autor com uma ligação muito intensa com o real e com os problemas (políticos) da vida!
ResponderEliminarOlá Jorge claro que pode! Foi o primeiro que li dele e como gostei tanto vou adquirir mais no futuro ;-)
ResponderEliminarmfc sem dúvida tem muita noção da política e da realidade.
Ainda só li As Travessuras da Menina Má, mas abriu-me o apetite para ler os outros de Vargas Llosa. Talvez este seja o seguinte :)
ResponderEliminarJoão também queria ler esse livro, aliás era o que estava a pensar comprar a seguir.
ResponderEliminarEntretanto já li outro dele "Os cadernos de Dom Rigoberto" mas não gostei tanto, é a falta de um adjectivo melhor "desconcertante"...